quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Nostalgia ...

Não, não não... É mentira!!

Quem ousa fechar essas cortinas? Abram essas cortinas!Rápido, limpem essa bagunça! Vamos começar o show!Não é possível que ninguém me ouve!Tenho certeza do que vi, ABSOLUTA CERTEZA,                                                                                    eu tenho sim...
E o que eu vi foi assustadoramente espetacular.Foi um sonho tornado real. Um sonho que desde os primeiros traços a lápis já era a pupila dos olhos, um tesouro rabiscado em letra simples, tão miúda quanto a menina que sonhou...Um sonho repartido com um amigo, que acredita em sonhos malucos, e que faz mais que acreditar e dizer "Vá em frente!": Ele segura o sonho com as duas mãos e lapida pra tornar concreto: pega a pedra bruta e torna preciosa, e paga um alto preço para fazer acontecer.E a loucura do sonho foi contagiando... A moça loira prestativa e corajosa, os patrocinadores que acreditaram junto...E o elenco foi arrastado nessa loucura.Foi sendo levado: a princípio assustados, depois empenhados a dar o melhor de si, e finalmente completamente absortos no universo de Insanidade.Alguns estiveram desde a primeira leitura, e levaram um grande susto ao receber uma tragédia - gênero tão diverso do que se vê em nossa cidadezinha - ainda engatinhando e aprendendo a gostar de arte. Mas mesmo assustados, toparam o desafio.Duas atrizes tiveram que deixar o elenco por motivos pessoais... E nós sentimos muito.Encontramos então outras duas que abraçaram a causa, que foram conhecendo aos poucos esse tão profundo texto, essa camada tão intensa de loucura...Tivemos muitas oportunidades de desistir: tamanho era o desafio à frente, o desejo e o medo se misturando dentro de nós... E prosseguimos.Cada passo minuciosamente marcado, cada expressão e movimento, o tom de voz, a caracterização, os elementos de cena... Detalhes que são o segredo do sucesso e que nosso diretor fez questão de ser criterioso e exigente - que já é uma marca registrada de seu trabalho.Ainda ouço as broncas, ainda lembro quanto doeu interpretar Letícia... quanto relutei para aceitar a personagem (mas isso é assunto pra outro post)... Ainda lembro da emoção de viver Insanidade desde que era abstrata - até o momento que se tornou real.



E hoje, um dia após a culminância desse projeto, com uma apresentação esplêndida que eu tive a honra de presenciar cada passo da trajetória... As piadas sem noção do Guilherme Guiné, o ritual de concentração muito individual de Maysa Zaiden, os beijos seguidos de xingamentos carinhosos "demônia, inferno" de Ingrid e Vinicios, a dedicação que promoveu a evolução de Karol Moreno e Jota, a detalhista e impecável Lady Belle, a Miss dona de uma simpatia e carisma muito particulares Mirian Moreira... E ver como esses incríveis atores fizeram esse espetáculo acontecer, dando o melhor de si dando o sangue (ou sujando de sangue falso o palco); faz acreditar que valeu a pena. Até os estresses, até as discussões para fechar as cenas, até quando os nervos a flor da pele ameaçaram desandar tudo... Valeu a pena enfrentar chuva, faltar no trabalho, ensaiar separadamente, emprestar minha casa pra receber esse bando de loucos, comer pipoca de doce do chef Vinicios, incomodar a Isa usando o belíssimo vestido para caracterização da Letícia...Valeu a pena cada minuto dedicado a escrever, enviar, receber, reavaliar, corrigir, revisar de novo o texto dos monólogos, procurar os textos de Shakespeare que se adaptariam, encaixar os recortes, retirar e substituir palavras ou expressões difíceis de entender... Valeu a pena passar noite decorando, ouvir centenas de músicas até encontrar a trilha sonora adequada; quase enlouquecer tentando ajudar o diretor com o roteiro da iluminação....Ah, e não dá pra esquecer aquela loirinha figurinista/cenógrafa/contra-regra/maquiadora/coordenadora que fez malabarismos pra contribuir do seu jeitinho e tornar tudo isso possível. Dra Yara Borges (agora que descobri que é doutora, vamos ver se acostumo): foi uma honra tê-la conosco: apoiando e cuidando dos bastidores. Obrigada por acreditar junto, por apostar todas as fichas mesmo em pânico, por estar conosco até o fim - tirando até o sangue do chão... Dona de uma paciência inabalável e um senso de humor quase do nível do Guiné. Foi incrível contar contigo nessa loucura...Foram muitas emoções, e pessoas incríveis que conheci nesse capítulo lindo.Vai deixar saudades...Se teremos a chance de viver essa explosão de sentimentos de novo?Quem sabe...?Talvez o futuro nos reserve uma surpresa.Talvez ainda tenhamos essa grata oportunidade de pisar naquele palco e transformá-lo em um mundo mágico onde é possível estar em Verona, Escócia, Veneza e em um hospício ao mesmo tempo; mexendo com os corações e consciências da plateia, instigando a viver melhor seus relacionamentos, sensibilizando por meio da linguagem tão densa e profunda da tragédia.Talvez...Mesmo que não seja possível, guardaremos pra sempre na memória os dias vividos nessa viagem belíssima. E como disse nossa Helena (antes mesmo de ser nossa convidada especial para ser a intérprete dessa personagem):"Insanidade começa quando as cortinas se fecham e a mente das pessoas começa a trabalhar com base na peça. Vai ser o que o teatro deixou em cada um" 


Ainda estamos vivendo a peça... Fomos modificados por ela. Cada nova experiência deixa uma marca indelével em quem vivencia... No caso de Insanidade, é uma experiência e tanto.
Obrigada a todos pela viagem! Espero encontrá-los em outros portões de embarque. Ou no mesmo. Quem sabe um dia...

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