sábado, 1 de junho de 2019

Carta aos insanos...

Olá insanos,

Na última terça de maio vivemos um turbilhão de emoções (de novo). No palco, com uma plateia calorosa, viva, intensa. E agora, que acabamos de chegar em Junho sinto um desejo enorme de dizer algumas palavras sobre esse momento tão único: reviver o espetáculo Insanidade.
Alguns poderão dizer: "Mas já é a terceira vez pra você e para maioria de nós..."
Sim, eu sei. Nem por isso deixa de causar as borboletas no estômago próprias dos apaixonados.
Confesso.
Publicamente.
Escancaradamente
De cara limpa
Sou apaixonada por esse espetáculo e através dessa carta on line quero deixar registrado para a posteridade: já sinto saudade, mesmo antes de descer a escada ao final do espetáculo, guardando os objetos cênicos e figurinos no carro; despedindo de todos e apagando a luz. O coração fica miudinho já naquela música triste que toca após o: "Amor Insanidade" que todos gritamos juntos! E toda vez é a única, é a última - como bem disse nosso querido diretor, meu amigo Diego Maia, que sonhou comigo esse espetáculo desde os primeiros traços, desde os escritos ainda a mão e em cada troca de email ao escrever o roteiro juntos. Nem precisava pedir, professor: nós faríamos como se fosse a última. E a cada remontagem será intenso de novo. E forte! E emocionante!

Insanidade começou numa tarde de agosto de 2017, quando ao fim das audições, sentados informalmente analisando os escolhidos, Diego comentou comigo e professora Yara que gostaria de um espetáculo de Shakespeare, contemporaneizado, atualizado, que as pessoas pudessem se identificar de modo mais próximo e ao mesmo tempo que fosse fiel aos clássicos de Shakespeare. Seria estranho o desejo do gênio de nossos tempos, esse menino de coração gigante e homem valente, que aprendi a admirar... seria estranho se não fosse tão absolutamente possível quando a inspiração inicial veio. E ao ser apresentada, ainda em rabiscos tímidos, foi aceita com olhos brilhantes do parceiro Agente Maia, e foi sendo delineada entre um copo de café e outro, com muita pesquisa e conversas longas sobre a beleza e a dor de amar. E construímos juntos o texto, e aos poucos foi ganhando forma, e expressando exatamente a sintonia e maturidade da amizade dos roteiristas, e o prazer mútuo de fazer arte juntos. Concluso, o roteiro foi entregue em setembro do mesmo ano, e  o grande desafio de fazer tragédia pela primeira vez nos assustava muito, mas nossa confiança um no outro e com todo o suporte da UEG foram fundamentais, e assim: em novembro a estreia aconteceu, tendo no elenco (As mulheres: Ingrid, Isabelle, Maysa, Karol, Mirian e eu. Os homens: Vinicius, João e Guilherme): foi apresentada exclusivamente para os acadêmicos da UEG de Goianésia, através do Projeto UEG Cênica. E aqueles que viram pela primeira vez viajaram conosco, sob silêncio absoluto e com lágrimas nos momentos mais intensos. E confirmaram o que já imaginávamos, deixando a modéstia de lado: tínhamos criado uma obra de arte belíssima.

Em 2018, surgiu a oportunidade de reviver Insanidade em um Festival Cultural em Pirenópolis e nós topamos, com coração palpitando de embarcar nessa viagem de novo. E temerosos porque seria desafiador mais uma vez: tínhamos que encontrar outro casal pra representar Otelo e Desdêmona, outro ator pra interpretar Macbeth e outra Helena. Por razões diversas, os primeiros atores já não estavam conosco e tivemos medo de não conseguir encontrar artistas dispostos a topar conosco o desafio. Mas encontramos. De coração aberto, embora também temessem o tamanho da responsabilidade, tivemos o sim de Davi e Bruna (Otelo e Desdêmona), Douglas (Macbeth) e Cristiane (Helena). Ficando os demais mantidos em seus personagens originais: Isabelle (Lady Macbeth), Ingrid (Julieta), Vinicius (Romeu), Maysa (Anna) e eu (Letícia). Tivemos pouco tempo, e uma cirurgia de nossa Helena preocupou a todos, mas ela foi corajosa e se entregou a tal ponto, que mesmo de repouso pós operatório, enfrentou a viagem e se entregou a personagem, dando o melhor de si. E foi belíssima não só a atuação dessa menina extremamente dedicada, quanto a paixão de todo o elenco pelo espetáculo, que refletiu no resultado final: um sucesso!! Palco ao ar livre, focos que se moviam e sem tempo pra ensaiar com iluminação como devia, mesmo assim, encaramos de frente o desafio e entregamos o melhor possível, emocionando aos presentes e causando em nós a sensação deliciosa de dever cumprido.

E quando pensamos que a história de Insanidade já seria apenas memória, em 2019 surgiu a oportunidade de remontar o espetáculo. Agora sem o respaldo do Projeto de Extensão UEG Cênica,  que acabou junto com o término da graduação do Diego Maia. No entanto, o incentivo da UEG Goianésia se manteve, com apoio moral, espaço pra ensaio - salas de aula do Campus, e divulgação; além de conseguirem que as turmas de primeiro ano de história, pedagogia e administração fossem prestigiar, sendo que esse apoio fez toda a diferença. Contamos com apoios financeiros de alguns empresários, vendemos nós mesmos os ingressos, tivemos o contratempo do choque de datas com outro evento no local onde seria apresentado o nosso espetáculo - e pensamos várias vezes em desistir. Na antevéspera, nada era garantido, tivemos dificuldade para conciliar horários dos atores pro ensaio final, sofremos com medo de não dar tempo de ficar pronta a iluminação e figurino do espetáculo. Tivemos medo. Mas continuamos, com medo mesmo.
Afinal, apesar de todos os obstáculos e de tudo parecer dar errado, tínhamos um ao outro, de tal forma que o cuidado foi redobrado e nós soubemos entender-nos mutuamente. E depois de todos os contratempos, de tanta aflição, chegou o grande dia!!
Quando nosso diretor disse: "Deem o melhor de si! Concentrem! Divirtam-se! Está lotado lá fora!!"
Nós entramos no mundo mágico de Insanidade, como se hipnotizados e totalmente entregues. Foi de uma leveza e uma intensidade tamanhos, que ao final estávamos flutuando. 
E de bônus, tivemos a roda de conversa com profissionais de áreas diversas: Eduardo (educador e filósofo), Gil (assistente social) e Dra Jéssica (psicóloga) nos brindaram com fascinantes reflexões sobre o espetáculo, com seus olhares diversos e de uma maneira tão delicada, que ficou claro a cada espectador a proposta. Foi um momento memorável e valeu a pena cada minuto dedicado a sua preparação e realização. E pra fechar com chave de ouro a cesta brinde da Cacau Show foi sorteada e entregue, as fotos e o carinho foram recebidos e a cortina fechou, definitivamente.
Tínhamos que ir. Já não havia nada a fazer ali...
Já não podíamos viver no faz de conta de Insanidade, mas com os efeitos desse espetáculo em nós.
E essa carta longa é minha maneira de agradecer aos que sonharam conosco esse sonho, aos que dedicaram suas horas em ensaios, aos que se apaixonaram conosco pela obra, pela arte...

Meus queridos insanos...
eu precisei fazer uma retrospectiva das três viagens ao maravilhoso mundo de Insanidade que foram realizadas, para que entendessem quão diversos são os desafios de um mesmo espetáculo. Para que refletissem sobre o quanto é sério fazer arte. Para que lembrem sempre quanto são imprescindíveis, que suas atuações ficarão para sempre em nossas memórias, e daqueles que contemplaram Insanidade.
Esse não é um espetáculo pra entreter. É pra instigar. Pra proporcionar reflexão. Pra "abalar as estruturas"...
Vocês foram responsáveis, corajosos, zelosos e delicados conosco e uns com os outros. E isso é que de fato fica. O prazer de dividir Insanidade (antes um sonho meu e do Diego) com vocês, e com o público é inenarrável, e talvez eu tenha perdido meu tempo nessas linhas de palavreado inútil que não alcança nem de longe o quanto amo fazer arte, e quanto amei fazer arte com vocês. 


Talvez, de fato, tenha sido essa nossa última vez juntos. Nesse espetáculo.
Talvez, ele fique somente nas memórias até ser deletado completamente pelo implacável tempo.
Talvez por isso eu tenha preferido essa carta fixa, a postar no stories por 24 horas apenas.
Se for assim, se tudo que tenho for a história que logo vira passado distante, então, a cada vez que lerem essas linhas, saberão que fizemos história.
E não foi pelos grandes atos.
Foi pelo amor que colocamos neles.

Obrigada Insanos.
E parafraseando Montenegro:
Que a nossa loucura seja perdoada...
porque metade de nós é amor, e a outra metade, também!!

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

OSSEVA OD (leia do fim pro início)

Nada mais...
Daqui a pouco tempo restarão apenas memórias
faz parte de mais um capítulo da história.
Agora já não é mais um desafio:
de obstáculos que pareciam intransponíveis...
Foi um longo caminho
Obrigada Diego! Obrigada por Do Avesso.
A meu querido amigo e diretor... ser humano extraordinário que admiro tanto:
Agradeço aos que apoiaram. Aos que acreditaram.
Agradeço profundamente a todos que participaram dessa viagem ao contrário.
Foi maravilhoso! Vocês abrilhantaram o espetáculo de fim de ano e jamais esquecerei.
expressão facial, foram generosos um com o outro, abraçaram o desafio, embelezaram o espetáculo..
ajudaram na troca de cenário, deram sugestões, mudaram a expressão de voz, cuidaram da
A maneira como incrementaram o texto, que coreografaram, pensaram maquiagem e figurino,
Vinícios, Isabelle, Kaillayne e Junior: vocês foram incríveis:
pelos monólogos: idealizados por Diego após ser cancelada a peça cômica e escritos por mim.
E é impossível não agradecer especialmente aos quatro atores que deram o melhor de si
ver mais um roteiro ganhando vida
Nem sei como descrever como é incrível
Lutamos. E vencemos. Mais uma vez. Juntos. Parceria linda... Parceria que só a gente entende.
ainda não sabíamos se seria possível apresentar e já estavam todos a postos.
Foi maravilhoso ver você lutando por essa peça até o fim. Até o dia da estreia:
e que só ganham vida a partir de um olhar criativo e eficiente de um profissional impecável!
Sonhando junto. Pagando o preço por confiar nas histórias que me habitam, que me circundam
Como sempre, Diego Maia, acreditando em minhas loucuras... apostando em mim.
O estresse do diretor (importante frisar o quanto foi desgastante para ele)
A dificuldade de reunir os atores. Os muitos afazeres, o desinteresse...
A dificuldade de conseguir o cenário (por que a roteirista tinha que colocar até uma maca hospitalar?)
E apesar de tudo... Foi apresentada!
Desistimos duas vezes. A peça foi cancelada duas vezes.
iluminação de focos e cenário sendo trocado ao longo do espetáculo.
Com personagens sem nome, com trilha sonora de trombeta intermitente que não achava, com
com cenas quase idênticas e de emoções diferentes em cada dupla de personagens no palco.
E o diretor quase pirou: com a dificuldade de marcar um texto tão confuso,
Era uma viagem a um lugar jamais habitado. Era estranho e eu os entendo.
esqueciam a marcação, não pareciam estar muito satisfeitos com o texto complicado.
os ensaios não rendiam: atores faltavam, chegavam atrasados, demoraram decorar o texto,
o computador estragou e eu não tinha salvo em nenhum outro lugar,
E pensar que parecia impossível:
Iniciar da última cena pra primeira, foi extremamente insano.
diferente de tudo que eu já vi.
Uma peça totalmente nova
ossevA oD

quarta-feira, 22 de novembro de 2017

Nostalgia ...

Não, não não... É mentira!!

Quem ousa fechar essas cortinas? Abram essas cortinas!Rápido, limpem essa bagunça! Vamos começar o show!Não é possível que ninguém me ouve!Tenho certeza do que vi, ABSOLUTA CERTEZA,                                                                                    eu tenho sim...
E o que eu vi foi assustadoramente espetacular.Foi um sonho tornado real. Um sonho que desde os primeiros traços a lápis já era a pupila dos olhos, um tesouro rabiscado em letra simples, tão miúda quanto a menina que sonhou...Um sonho repartido com um amigo, que acredita em sonhos malucos, e que faz mais que acreditar e dizer "Vá em frente!": Ele segura o sonho com as duas mãos e lapida pra tornar concreto: pega a pedra bruta e torna preciosa, e paga um alto preço para fazer acontecer.E a loucura do sonho foi contagiando... A moça loira prestativa e corajosa, os patrocinadores que acreditaram junto...E o elenco foi arrastado nessa loucura.Foi sendo levado: a princípio assustados, depois empenhados a dar o melhor de si, e finalmente completamente absortos no universo de Insanidade.Alguns estiveram desde a primeira leitura, e levaram um grande susto ao receber uma tragédia - gênero tão diverso do que se vê em nossa cidadezinha - ainda engatinhando e aprendendo a gostar de arte. Mas mesmo assustados, toparam o desafio.Duas atrizes tiveram que deixar o elenco por motivos pessoais... E nós sentimos muito.Encontramos então outras duas que abraçaram a causa, que foram conhecendo aos poucos esse tão profundo texto, essa camada tão intensa de loucura...Tivemos muitas oportunidades de desistir: tamanho era o desafio à frente, o desejo e o medo se misturando dentro de nós... E prosseguimos.Cada passo minuciosamente marcado, cada expressão e movimento, o tom de voz, a caracterização, os elementos de cena... Detalhes que são o segredo do sucesso e que nosso diretor fez questão de ser criterioso e exigente - que já é uma marca registrada de seu trabalho.Ainda ouço as broncas, ainda lembro quanto doeu interpretar Letícia... quanto relutei para aceitar a personagem (mas isso é assunto pra outro post)... Ainda lembro da emoção de viver Insanidade desde que era abstrata - até o momento que se tornou real.



E hoje, um dia após a culminância desse projeto, com uma apresentação esplêndida que eu tive a honra de presenciar cada passo da trajetória... As piadas sem noção do Guilherme Guiné, o ritual de concentração muito individual de Maysa Zaiden, os beijos seguidos de xingamentos carinhosos "demônia, inferno" de Ingrid e Vinicios, a dedicação que promoveu a evolução de Karol Moreno e Jota, a detalhista e impecável Lady Belle, a Miss dona de uma simpatia e carisma muito particulares Mirian Moreira... E ver como esses incríveis atores fizeram esse espetáculo acontecer, dando o melhor de si dando o sangue (ou sujando de sangue falso o palco); faz acreditar que valeu a pena. Até os estresses, até as discussões para fechar as cenas, até quando os nervos a flor da pele ameaçaram desandar tudo... Valeu a pena enfrentar chuva, faltar no trabalho, ensaiar separadamente, emprestar minha casa pra receber esse bando de loucos, comer pipoca de doce do chef Vinicios, incomodar a Isa usando o belíssimo vestido para caracterização da Letícia...Valeu a pena cada minuto dedicado a escrever, enviar, receber, reavaliar, corrigir, revisar de novo o texto dos monólogos, procurar os textos de Shakespeare que se adaptariam, encaixar os recortes, retirar e substituir palavras ou expressões difíceis de entender... Valeu a pena passar noite decorando, ouvir centenas de músicas até encontrar a trilha sonora adequada; quase enlouquecer tentando ajudar o diretor com o roteiro da iluminação....Ah, e não dá pra esquecer aquela loirinha figurinista/cenógrafa/contra-regra/maquiadora/coordenadora que fez malabarismos pra contribuir do seu jeitinho e tornar tudo isso possível. Dra Yara Borges (agora que descobri que é doutora, vamos ver se acostumo): foi uma honra tê-la conosco: apoiando e cuidando dos bastidores. Obrigada por acreditar junto, por apostar todas as fichas mesmo em pânico, por estar conosco até o fim - tirando até o sangue do chão... Dona de uma paciência inabalável e um senso de humor quase do nível do Guiné. Foi incrível contar contigo nessa loucura...Foram muitas emoções, e pessoas incríveis que conheci nesse capítulo lindo.Vai deixar saudades...Se teremos a chance de viver essa explosão de sentimentos de novo?Quem sabe...?Talvez o futuro nos reserve uma surpresa.Talvez ainda tenhamos essa grata oportunidade de pisar naquele palco e transformá-lo em um mundo mágico onde é possível estar em Verona, Escócia, Veneza e em um hospício ao mesmo tempo; mexendo com os corações e consciências da plateia, instigando a viver melhor seus relacionamentos, sensibilizando por meio da linguagem tão densa e profunda da tragédia.Talvez...Mesmo que não seja possível, guardaremos pra sempre na memória os dias vividos nessa viagem belíssima. E como disse nossa Helena (antes mesmo de ser nossa convidada especial para ser a intérprete dessa personagem):"Insanidade começa quando as cortinas se fecham e a mente das pessoas começa a trabalhar com base na peça. Vai ser o que o teatro deixou em cada um" 


Ainda estamos vivendo a peça... Fomos modificados por ela. Cada nova experiência deixa uma marca indelével em quem vivencia... No caso de Insanidade, é uma experiência e tanto.
Obrigada a todos pela viagem! Espero encontrá-los em outros portões de embarque. Ou no mesmo. Quem sabe um dia...

sexta-feira, 17 de novembro de 2017

Otelo e Desdêmona

Um lenço...
Foi por um pedaço de tecido que perderam ambos a vida.
Por um rasgo de pano, tão frágil quanto o amor que unia o casal.
Por uma intriga cruel, de um invejoso terrível... a inocente Desdêmona foi assassinada pelo homem que dizia amá-la.
Eles que lutaram tanto para viver esse amor intenso, que desafiaram todos e venceram tantos obstáculos, acabaram vencidos por um tecido fino e sem importância.
Foi uma calúnia terrível, da qual a submissa e corajosa Desdêmona não teve como se defender.
Tão bem delineada, que nada do que dissesse seria capaz de ser convincente a seu favor.
Ela que tentou promover a paz entre o esposo e seu tenente Cássio, acabou tendo suas súplicas mal interpretadas e distorcidas pelo ciúme doentio.
Pobre Desdêmona...
Uma vida ceifada por um terrível engano, por uma maquinação maléfica...
Uma doce e ingênua criatura que não teve tempo de viver o amor de sua vida como merecia.
Morreu pelas mãos do amado... Morreu implorando por misericórdia, suplicando por mais um sopro apenas de vida.

Pobre Otelo...
Ao ver o terrível ato que cometeu não suportou conviver com a culpa de ter tirado a vida da mulher que amava: com um punhal deu fim à vida.
Partiu contemplando o corpo inerte da mulher que lhe causara tanta alegria, e que morrera sem culpa alguma. Imaculada. Uma companheira fiel e verdadeira.

Foi por um maldito lenço que essa história acabou assim. Uma tragédia sem precedentes...
O ciúme levado até as últimas consequências...

Tudo por um lenço e uma intriga!
E a bela história de amor acabou em sangue e morte.
A história de amor teve fim.
Virou história de morte.

A morte! O túmulo do amor...


Lady Macbeth e Macbeth

"Por trás de um grande homem sempre há uma grande mulher..."
Era um barão de Glamis, que por ter sido tão valente e bem sucedido na batalha, foi saudado por feiticeiras como Barão de Cowdor, e como Rei da Escócia... Profecia perturbadora.
Tão perturbadora que contou à mulher em carta. Ele estava dividido entre ser poderoso ou ser digno e fazer o que é certo. Ouvia de um lado o grito do desejo de grandeza, de outro o sussurro da consciência. Uma luta interior que o perseguia.
Tornou-se por merecimento Barão de Cowdor. Tinha tanto desejo quanto medo do que intencionava fazer: matar o rei e roubar-lhe o posto. Oh, que dilema cruel!

Não para ela:
Lady Macbeth, sua esposa, sabia exatamente o que queria: ser rainha da Escócia.
E para isso arquitetou tudo: a droga na bebida dos súditos de Duncan, os punhais manchados do sangue colocados nos criados do próprio rei a fim de incriminá-los, o desespero fingido após receberem a notícia... Tudo meticulosamente calculado.
Uma mulher fria, calculista, sem nenhum remorso ou culpa dos atos terríveis. Forte e destemida. Provocante e cruel!

Um plano perfeito! Sem possibilidade de dar errado, extremamente bem traçado... Exceto pela tal consciência perturbadora; que levou embora todo o juízo do rei e rainha da Escócia.
Enlouqueceram
Perderam completamente qualquer fio de sanidade.
Já não eram amantes, cúmplices, parceiros...
Já nem mais se enxergavam um ao outro.
Ficaram cegos pela loucura.

Esse sangue nunca mais sairá de suas mãos.
Não ficarão limpos.
Nem as mãos, nem as almas.
Estão condenados a conviver com seus fantasmas.
Eles traçaram a própria condenação.
As vozes em suas cabeças não cessarão jamais...


Romeu e Julieta

Esse amor tão intenso e sagrado...
Arrebatador, inquebrantável, para além da vida.
O casal mais apaixonado de todos os tempos:
Romeu e Julieta!
Montecchio e Capuleto... um amor proibido pelo ódio entre as famílias, desafiando todas as leis para se concretizar.
O enlace de almas que barreira alguma foi capaz de impedir.
Dois amantes inteiramente despojados: abdicando de si mesmos para abraçar o romance mais belo e poético que já se viu.
O corajoso Romeu seria capaz de enfrentar o mundo com uma mão se tivesse sua amada segurando firme a outra.
A doce Julieta que a tudo abandonou para viver só de amor, e deixou para trás a segurança do lar e a nobreza para ser uma fugitiva errante e perdidamente apaixonada.
Dois amantes: que se consumiram até o extremo por amor.
Nada seria capaz de alcançar a grandeza do que só eles conseguiram vivenciar: ninguém mergulhou tão profundamente no mar do amor...
Era impossível sobreviver a esse mergulho! Maior que qualquer mortal poderia suportar!

Transbordaram de amor...
A ansiedade da espera de ficarem juntos para sempre acabou por ocasionar um terrível mal entendido: e por um erro fatal do destino não puderam viver o que sonharam nessa vida terrena.
Abraçaram então juntos a morte.
Ele por ela
Ela por ele.

O gosto do veneno ainda está na boca de Montecchio.
O sangue manchou a bela veste da doce Capulleto.
E dormem para sempre abraçados.
Um sono eterno. Que ninguém ousará perturbar.
O sono mais perfeito que há para os amantes...
O sono de estar com quem se ama.
Pela eternidade

Monteleto
Capucchio

(A todos os que amam além da medida)


quarta-feira, 15 de novembro de 2017

Intensidade

Insanidade... 
Uma viagem profunda a um universo que todos habitam, que todos mergulham: uns com um medo terrível que os leva a molhar apenas os pés; outros com uma intensidade tremenda que faz ultrapassar todos os limites, a abraçar com força o extremo e chegar muito perto da loucura...
É um voo muito particular: cada um sabe dos ventos que é capaz de enfrentar e da força das próprias asas...

"Como a ave que abre as asas para a altura, esqueço a lama que o meu ser maldiz..."


Assim disse Shakespeare, e repete Helena... Oh quem dera se de fato esquecesse... Não seria tão atormentada pelos fantasmas que a perseguem: da culpa, do remorso, do desejo de remissão... Ah, que dor avassaladora de ter se perdido na própria ambição. Quanta dor aguenta essa mulher - antes tão forte e decidida?A que vamos brindar, minha cara? A que?Se há um mar de lodo que te arrasta ao chão a cada passo... Se há medo em seus olhos tão belos, a ponto de ofuscar-lhes o brilho?Sua fuga é inútil, nobre Helena: seu medo não é real. E ao mesmo tempo, não há nada mais real que ele. Está impregnado em suas células, ele percorre suas veias, ele te perturba o sono, ele te rouba a juventude... O medo te paralisa. Ele tem o poder absoluto sobre cada passo seu. Ninguém te salvará, minha cara: não estava tudo sob controle. O plano era perfeito, não é mesmo? Exceto por ser executado por humanos: que são miseravelmente comandados por essa tal consciência...E agora, Helena? E agora? Essas vozes nunca vão calar? Quantos dias ainda essa culpa vai te corroer? Vê... Não há saída: sua pior inimiga reflete seu rosto no espelho. De nada adianta gritar. É a voz da sua própria consciência que te rouba a paz. Ela não te deixará nunca. Conviva com isso! 



"Qual seria a diferença entre o amor e a morte? Nenhuma. Amar é em algum momento morrer"


Morrer por amar ou por ser amado. Por amar errado. A pessoa errada. Ou a pessoa certa; do jeito errado.Um amor que rasga a alma... avassalador, inebriante, feito de calmaria e fúria. Um amor doente. Que não se sabe doente, embora todas as evidências revelem esse fato.Letícia... a personificação do ciúme doentio, insano, inconsequente... A morte do amado é a sua também. Sua vida acabou junto à dele. Nada mais vale a pena agora...De que vale esse discurso de posse? Essa demarcação de território, esse ataque feroz de caçadora insaciável? Não há mais pelo que lutar, mulher desequilibrada... Não há ninguém a conquistar, com essa pose de mulher fatal e esse olhar felino. É tarde tanto pra provocar com seu charme quanto pra aniquilar com seu veneno - sua víbora deliciosamente envolvente, perigosamente atraente, doce e cruel na mesma medida. Dona de toda intensidade do mundo.  Amor e o ódio se misturaram em você de tal forma que não há mais como separá-los: fazem parte de sua corrente sanguínea, solidificam os pensamentos mais ocultos de seu sub consciente. É tarde pra consertar as coisas. Seu amor não vai voltar. Você o destruiu, com as próprias mãos. Pare de gritar, mulher insana. Está feito. Ele não voltará jamais.Você levou a doença que chamou de amor até as últimas consequências, agora terá que seguir em frente: vendo o sangue dele em toda parte...



"Foi ali que mergulhei no mais lindo amor que alguém poderia viver"


Aquele mergulho foi intenso demais. Tão profundo que você nunca mais soube voltar à margem, doce Anna... Menina de sorriso contagiante, de voz suave como anjo, de rodopios e sonhos...Sempre pronta. Tão fulminante foi esse amor à primeira vista que estavam prontos um para o outro desde o primeiro instante, até o último. Sabiam pertencer-se. Tinham absoluta certeza.Por que ninguém te escuta? Não te levam logo para os braços de seu amado.. para a noite de núpcias, para o encontro tão esperado, a lua de mel dos sonhos, os corpos e almas para sempre entrelaçados, na simbiose mais perfeita...Por que não te respondem? E essa ansiedade que aperta o peito? E esse lugar tão sombrio e fechado.. Que nada tem a ver com seus planos de felicidade eterna... Um absurdo!Doce Anna...Está tudo fora de lugar: os docinhos, o buquê, a água, seu pai que não vem. E agora, menina? Como será esse dia tão especial? Deve ser brincadeira ne? Uma pegadinha. Uma brincadeira de mal gosto...E se for o caso de adiar?Mas espere... o noivo não vem? Não, ele não se atrasou... Não é nenhuma piadinha. É a vida fazendo tudo ficar de cabeça pra baixo de repente: ele nunca vai chegar. Está morto.Seu amor não vai chegar, ó doce Anna... Ele não vai beijar suas mãos a noite após jurar estar contigo na saúde e na doença, para todo o sempre. Ele não pode mais. A história de vocês acabou. E você também precisará se acostumar com a dor da ausência... Não faça nenhuma loucura menina! Pare com isso! Ó Doce Anna... Por que resolver as coisas desse modo? Fecha os olhos pra sempre menina... A dor acabou!


Sim. O voo é único para cada um.

É uma insanidade!

(Para Roberto, Vitor e Marcelo