domingo, 30 de setembro de 2012

Cotidiano

É no cotidiano que está todo aprendizado que realmente precisamos.

Na vida.

No caminho.

Só que é preciso saber ver além.


Certo dia, fiz a tal pergunta clássica a um jovem rapazinho de três anos.

 - Pedro Henrique, o que você quer ser quando crescer?

 Ele, sem pensar muito, respondeu:

 - Quero ser o Pedro Henrique.


Achei brilhante a resposta.

Ele olhou pra mim como se fosse uma pergunta idiota.

E foi.

Todos já perguntaram isso pra alguma criança alguma vez.


Como assim? Só quando crescer é que eu vou ser alguém?

Eu já não sou?

Terei que deixar de ser o Pedro Henrique?


Pra muita gente, poderia ser tida como uma resposta errada.

Mas pra mim, é só um sinal de que é uma criança bem resolvida: não importa que profissão tenha, pra que time vai torcer, ele vai continuar sendo o Pedro Henrique.

Pode ser que em algum  momento ele queira ser outra pessoa, como acontece com muita gente. Mas ele só quer ser ele. Pra que a cobrança de ser "alguém na vida"? Já não nascemos alguém? Ficamos alguém quando adultos?

 

Pena que nos perdemos... perdemos essa vontade de ser nós mesmos. 

Essa ingenuidade tão sincera das crianças, essa grandeza...


Aprender com os pequeninos é a coisa mais preciosa. 

Ele, um mestre da vida, me ensinou algo que a tempos havia esquecido:

Nunca abandonar minha identidade, nunca esquecer quem sou eu.

Nunca perder-me de mim.

Continuar sendo a Paula Lopes, a mesma.

Ainda que as mudanças ocorram, que eu consiga me reconhecer ao longo do caminho. E que as escolhas sejam minhas, e não dos outros.

 

A vida é feita de pequenos detalhes.

Requer sensibilidade pra enxergar o belo escondido na sutileza de  um diálogo assim tão rico, com uma pessoa, ainda pequena, mas com uma inteligência extraordinária e a generosidade que os adultos costumam esquecer em algum lugar da trajetória da vida.

Requer silêncio e escuta.

Requer contemplação.

 

 

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

AMIGOS

"Depois de certo tempo você descobre que bons amigos são a família que nos permitiram escolher.
E que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos"


Amigos não precisam de muito: nada de extraordinário tem que acontecer para que cada momento seja incrível.
E não. Amigos não são aqueles seres superiores, quase angelicais, que te entendem sempre, tem sempre o melhor conselho e estão sempre necessariamente a disposição.
Amigos as vezes dizem coisas que a gente não gosta de ouvir, as vezes mentem, de vez em quando nos abandonam e inventam tantas outras prioridades que a distância começa a machucar.
Amigos bagunçam seu cabelo, pegam o livro emprestado e esquecem de devolver, não retornam a ligação, tem crise de ciúmes...
Amigos te contam segredos que seria melhor nem saber, te encharcam de lágrimas, te sufocam num abraço e te conhecem com um olhar.
Amigos as vezes são inconvenientes, indiscretos, falantes, exagerados, infantis, birrentos, mal educados, medrosos.
Costumam participar - ou estar presentes - nos maiores micos de sua vida.
Tem o hábito de perder a medida e esquecer que nem distância nem presença em excesso fazem bem.
Mesmo assim, a vida sem eles não teria a menor graça.
Por que amigo, tem um lugar na vida da gente que não é substituído por ninguém.

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

A espera de um milagre

"Ele as matou por causa do amor. O amor que tinham uma pela outra. É assim o tempo todo."

                                                                                     (Jhon Coffee - filme A espera de um milagre)


Os bons morrem jovens,
os maus se sobressaem
O alimento pra audácia dos maus é a covardia dos bons.
E a gente sabe disso tudo!

Sabemos que a maldade tem sido cada vez mais audaciosa, criativa, e cresce como uma erva daninha.
Sabemos que o amor está fora de moda, ultrapassado... os que amam são ridículos.
Sim, sabemos.

Sabemos que o natural é ser corrupto, indecente e imoral.
Sabemos que honestidade é idiotice e não ajuda a progredir.
Ouvimos isso o tempo todo!

Sabemos que é compreensível interromper vidas, julgar e decidir pelo fim de outras tantas, massacrar o oprimido, e que tudo isso acontece naturalmente -"em nome do bem comum...."
Sabemos que hoje é chique ser depressivo, mau humorado e arrogante!

E na roda gigante da vida, sabemos que a maldade está sempre em alta
e os bons se escondem, ou acabam sufocados no mar de tanta injustiça, criminalidade e insensatez.

Onde estão os bons?
Acomodados na vida segura, confortável e organizada?
Ou cansados de lutar?

Onde estão?

Por que o mal se alastra e o bem retrocede?
Falta-nos olhar pra nossa essência, e voltar a ela!
Porque o amor ainda é (e sempre será) a causa, e o fim de tudo!
Não há felicidade plena sem amor verdadeiro!

Quis ilustrar com uma cena e uma citação desse belo filme a reflexão que hoje me inquieta, visto ser  uma obra de arte esse texto riquíssimo, com interpretação brilhante de todos os atores, especialmente deste negro doce e enorme que tanto emocionou nessa atuação.
O filme fala com profundidade de preconceito, maldade, o sobrenatural presente em milagres e de como o ser humano é capaz de extremos, como temos perdido nossa capacidade de ser HUMANOS e de permitir que a Deus seja concedido ser Deus e julgar. Não cabe a nós, reles mortais, condenar ou libertar, matar ou deixar viver, independente de qual crime tenha sido cometido. É uma afronta e um ato que gera um efeito dominó: pagar o mal com o mal.
É um filme impactante e que fica ressoando em nossas consciências por muito tempo.